Não consigo me perdoar. Meu coração não deixa e minha mente não
consegue escapar dos erros que eu já cometi. Paciência. É como um filme ruim em
reprise na sessão da tarde, passando pela tela da tv várias e várias vezes.
‘Pernas pra que te quero!’, como é que eu fujo de mim? Aí eu me coloco de
frente pruma folha em branco e escrevo.
Escrevo porque preciso, porque aprecio a minha própria companhia
nessas horas de confusão. Meu coração andou apaixonado, andou sangrando, andou
se curando e a melhora ainda está acontecendo bem aqui, dentro do meu peito;
bem aqui, dentro de mim.
Já não ligo mais se me taxam de amargurada, respeito meu tempo.
'Escuta aqui, não sou Wolverine,
que se cura cinco minutos depois da queda, ok?' Minha estrutura está mais pra
porcela do que pra Adamantium, mas com cada machucado que demora a parar de
doer, eu aprendo.
O importante é dizer que mesmo sabendo muito pouco sobre tudo,
aprendi que se a gente não se preserva, a vida fica insuportável.
Que se a gente não cuida do bem estar do espírito da gente, não
sorri pela manhã e não encara o monstro da vida com mais leveza, chega um dia
em que vamos ir dormir com a boca seca e acordar com um peso insustentável, no
peito.
É hora de lavar o rosto, lavar alma e desocupar o guarda roupa.
E se a gente deixa passar e não se respeita, esquece! Os
problemas vão se acumular no melhor estilo bola de neve, debaixo do seu
travesseiro. E não vai adiantar esconder tudo debaixo do tapete, porque seu
tapete já vai estar superlotado.
Ai vão dizer que você é jovem, bonita, saudável e pra quê tudo
isso? E ai não vai adiantar explicar que a tristeza que você sente não é de
ingratidão. Não vai adiantar dizer que é mágoa de você mesma, porque, por
desleixo e desesperança, não cuidou da mulher que um dia quis ser.
Texto: Nathália Ferraz